São geralmente as pequenas coisas que nos
impelem para decisões.
Ao contrário do que nos é ensinado pela literatura,
pela música, pela dança ou pelo cinema,
não são os grandes momentos que normalmente nos fazem pensar ou reflectir. São
as pequenas coisas, ou, talvez melhor dito, o seu acumular.
É certo, a perda de alguém que nos é
importante, o alcançar de um objectivo para o qual se trabalhou muito, o
casamento nosso ou de amigos ou de quem nos é próximo, são acontecimentos
marcantes para qualquer ser humano. Não neguemos o óbvio. Mas não ignoremos o
que é igualmente evidente: que a vida é mais feita de pequenas coisas, de
pequenos momentos do que dos outros, esses, os monumentais, bons ou maus. E são
os detalhes que nos podem fazer inverter direcção, escolher outros caminhos, ou
tomar a decisão que se adia, aquela que está dentro de nós há semanas, meses ou
anos, que sabemos que um dia estará amadurecida o suficiente para se dar o
passo em frente.
Na maioria das vezes, passamos o nosso
quotidiano sem pensar nessas pequenas coisas. Passamos os dias centrados no que nos parece
ser o grande plano, e sem nos darmos conta, os aparentemente menores tornam-se
quase obsessões. Cada vez mais acho que o dito grande plano raras vezes existe,
ou melhor, existe enquanto colagem dos mais pequenos, que ignorados
prolongadamente podem tonar-nos azedos e infelizes.
E, repetindo-me bem sei, por vezes, quando
já estamos a meio do caminho, apercebemo-nos que os pequenos planos são muito
mais importantes, são as porcas e parafusos do outro plano, aquele que disse
que era grande. E como as porcas e os parafusos, precisamos de prestar atenção,
porque se não bem apertadas ou colocadas no local correcto, pode tornar-se numa
obra pouco estável. E nesse momento, voltamos a prestar atenção aos detalhes, às pequenas coisas, aos
pequenos momentos, às nossas “porcas e parafusos”, aos pequenos planos, porque
o grande se tornou algo desfocado.
E é nesse momento, sem se saber
exactamente como aí se chegou, quando udo se acumulou em aparente emaranhado
sem lógica, tomam-se decisões, e não há outro hipótese senão executá-las.
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