sábado, 31 de dezembro de 2011

há coisas que nos dizem que nunca se esquecem

As más marcam para sempre, as boas acompanham-nos pela vida.

Fiquem as primeiras, as segundas tornem-se apenas as memórias de quem passa pela nossa vida e não deve ficar.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Regressando ao sonho e à realidade

Camus escreveu que "[r]eal generosity toward future consists in giving all to what is present"... ora, no caso, significou que para dar ao presente tudo o que posso, tive de ceder um pouco no meu sonho e retransformá-lo.

por isso, candidatura entregue. contas feitas. responsabilidade assumida. passeio adiado.

algum tempo para me concentrar no hoje e não tanto no amanhã.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

efeitos de almoco

Hoje fui almoçar com amigos. E digo isto com um enorme prazer, proque gosto muitíssimo das pessoas em causa.
Durante o almoço, apercebi-me de que estamos todos a passar por uma fase idêntica, estamos todos no encalço do sonho. Objectivo virtuoso, sem dúvidas, mas que por vezes nos traz uma enorme frustração e insatisfação. E daí que me lembrei que, aquando das manifestações deste ano, o Mia Couto escreveu um texto que que diz muito (e que em baixo reproduzo).

O sonho é essencial, mas é também essencial perceber que não se pode ter tudo. Ou melhor, há que ter a consciência - que a mim me falta muitas vezes (reconheço) - que optando por uma coisa ou percurso, outros são necessariamente afastados. A dificuldade dessa escolha, a dor que por vezes nos traz ou a angústia que nos assola fazem parte. É a consequência do crescimento. E nunca ninguém disse que era fácil. O problema está em que por vezes não prestámos atenção ou não ouvimos verdadeiramente. E crescer não é, de facto, fácil. Implica escolher, implica abdicar.

E aqui fica o texto do Mia Couto que correu a internet e que, confesso, não sei se terá sido publicado em
algum jornal ou revista.




Mia Couto - Geração à Rasca - A Nossa Culpa "Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa
abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes
as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar
com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também
estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância
e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus
jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a
minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos)
vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós
1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram
nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles
a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes
deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de
diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível
cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as
expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou
presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o
melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas
vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não
havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado
com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A
vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem
Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde
não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar
a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de
aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a
pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e
da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que
os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade,
nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter
de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e
que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm
direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas,
porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem,
querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo
menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por
escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na
proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que
o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois
correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade
operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em
sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso
signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas
competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por
não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração
que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que
queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a
diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que
este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo
como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as
foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não
lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de
montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o
desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e
inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no
retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e
nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como
todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados
pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham
bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados
académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos
que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e,
oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a
subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos
nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares
a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no
que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida
e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme
convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem
fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e
a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

quem nao te procura, nao sente a tua falta

vi esta frase algures publicada no facebook... que me lembrou um filme que tem alguma graça, nao pretendendo ser mais do que uma comédia romântica... outras histórias, outros posts...

Mas lendo esta frase, consciente de que ela se dirige provavelmente a afectos amorosos (e nesse ponto, acho que é correcta, por mais fantasias que possamos ter em alguns momentos da nossa vida), mas é uma frase injusta ou , talvez menos forte, um pouco falaciosa, no que diz respeito a amizades.

amizades podem não ter procura, amizades duram e perduram mesmo que por vezes não haja uma procura directa e isso não significa que não sintamos falta das pessoas. E escrevo isto, porque estando longe, sei que sinto falta de muitos dos meus amigos e nem sempre, por variadíssimas razões, nem sempre os procuro. Mas as amizades alimentam-se de diferentes formas, constroem-se de diferentes modos e com diferentes dinâmicas. Mas as que são únicas e verdadeiras (que são poucas, e remeto para o texto do Esteves Cardoso que reproduzi aqui), subsistem, mesmo com menos procura, porque quando o encontro se dá, é como se estivessemos estado juntos no dia anterior.
Não há explciação para isso, a não ser que os afectos profundos, reitero de amizade, são sólidos.
Os afectoso amorosos, numa primeira fase, precisam de facto de procura e aí... não posso senão, com pena, concordar com a frase que despoletou este post.

Decepção

1. Ilusão perdida.
2. Desapontamento.
3. Malogro de uma esperança.
4. Desilusão.

in Flip

ora ai está

domingo, 25 de dezembro de 2011

Finalmente uns dias de descanso.... Com menos correrias e sensacao de que temos de ver todos, sob Pena de uma horrivel violacao de deveres sociais. Resta agora o fim do ano....

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

é oficial: chegou o natal

não é que não soubesse que a época tinha começado, mas quando as minhas contas de email começam a ser inundadas (literalmente) de emails natalícios de todas as newsletters é que tenho a certeza que ele - o natal - está mesmo à porta.

ps - note-se que a blogger adora os emails natalícios dos amigos e amigas, já os das newsletters e think tanks dispensavam-se... não temos uma relação que o justifique:-)
ela pára respirar e recuperar o passo que perdeu. mas sem sucesso. Foram muitos os passos que perdeu e, com eles, o equilíbrio. E cai, nesta terra demasiado pequena para dar espaço e, estupidamente, demasiado grande para a acolher. Onde tudo parecem ser repetições de momentos já vividos e de permanentes desencontros.

Respira novamente. Pensa - de desencontros se fazem as vidas, de repetições também.  E, no entanto, isso não a consola neste momento. Pessoa exigente que é, impaciente também. Queria o mundo de alegria e felicidade agora, mas agora não pode ser.

Não é agora pelo menos.

talvez um dia, quem sabe? num desencontro encontrado

domingo, 18 de dezembro de 2011

E sobre amigos... reproduzo Esteves Cardoso

O que Distingue um Amigo Verdadeiro

Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.

Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta.

Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo, nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto, existe uma mentalidade Speedy González, toda «Hey gringo, my friend», que vê em cada ser humano um «amigo». Todos conhecemos o género — é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o «amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e de amigas, centenas de amiguinhos, camaradas, compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c.
Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para mais, pífio e arrependido. Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. E fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

vai e vem

Vai e vem de tarefas natalícias (como é que é possível que estando emigrada a confusão e a correria seja pior do que pelo rectângulo?!?!?)


vai e vem de balanços... o hábito desconfortável de final de ano.

vai e vem de emoções, também elas relacionadas com a época, outras nem tanto. e as piores são mesmo as últimas, as primeiras fazem parte.

vai e vem de despedidas, notando que é agridoce, esta sensação de que se está a fazer amigos e que eles estão de partida, mesmo que seja um até já.

vai e vem...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

porque os sonhos também se fazem de poesia... aqui fica Carlos Drummond Andrade

A verdade dividida


A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso 
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

domingo, 27 de novembro de 2011

há algo de imaterial

pese embora não seja fã do género, não posso deixar de assinalar o reconhecimento do Fado como património mundial imaterial

http://www.youtube.com/watch?v=aUEGq2GZHtQ

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

to emigrate or not to emigrate II

aqui ficam as palavras de alguém bem mais eloquente do que eu sobre a temática que no outro dia me fez escrever

 

Jovens, fora daqui!

por BAPTISTA-BASTOS

In Diário de Notícias, de 23 de Novembro de 2011
Uma televisão esteve a fazer perguntas a jovens portugueses. Os jovens portugueses foram unânimes: estão fartos de ver os seus sonhos e ambições espezinhados, não se resignam a esta desordem política que lhes interdita o acesso ao bem-estar e à felicidade, e que eliminou do horizonte humano qualquer expressão de justiça. Uma rapariga, por sinal muito bonita e de frase curtida em leituras e decisões, preparava-se para abandonar o País e viajar até onde as suas faculdades fossem reconhecidas e estimadas. "Mas vai voltar, um dia?", perguntou-lhe, afobada, o jornalista, "Nunca mais! Aqui, não tenho futuro!" A luz, na televisão, era mais clara, e o rosto da rapariga atingiu uma inesperada dureza. Talvez o desprendimento de quem tem a sensação de não ser desejada.
Foi esse alheamento que me impressionou. De repente, na afirmação, "Aqui não tenho futuro!", deixara de residir a ternura e a intimidade, e passara a descoberto a factura de uma nova sabedoria, que me era estranha e, até, um pouco incómoda.
Na mesma reportagem, a informação, crua e grave, de que centenas de médicos e enfermeiros, por igual jovens, competentes e de confuso destino português, estavam de malas aviadas para se fixar no estrangeiro. Uma dessas, agora de abalada, demonstrou o seu desgosto com uma pequena frase: "Que havemos de fazer?"
Estes rapazes e raparigas são disputados em toda a Europa, e o interesse por eles, pela qualidade do seu trabalho, da sua devoção e da sua humanidade chegam à Austrália e à Nova Zelândia. Parece que o velho problema do mal na História renasce com a razão do Estado e a sua falta de ética da responsabilidade. O Estado, de certa forma corporizado no Governo, utiliza como meio específico a força da exclusão, da indiferença e do abandono, por detrás da qual se perfila a violência. As coisas complicam-se ainda mais se, noutra perspectiva, substituirmos a bondade pela grosseria. E recordo aquele membro do Governo (cujo nome desejo colocar à margem deste texto, desejadamente asseado) que incentivou os jovens portugueses a abandonar o País, violando, descaradamente, a palavra dada de respeito pela Constituição e pelos outros.
Perdemos a nossa gente nova porque estamos a ser friamente enganados por uma clique amoral, incompetente e inchada de soberba. Há qualquer coisa de infame numa política que não coincide com a justiça e com a procura do bem-estar das populações. A ilustração desta indignidade vemo-la todos os dias e atinge proporções insanas quando a juventude é assim dizimada por um Governo que a despreza ao ponto de a expulsar. "Pátria madrasta, país padrasto", concluiu João de Barros, o das Décadas, numa frase tão lacónica como excruciante.
"Aqui não tenho futuro!" A frase possui a amplitude de um desígnio e o ferrete de uma insuportável anargura.
 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

    "Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento, Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada, Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada. Assim tudo o que existe, simplesmente existe"
    Alberto Caeiro

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

To emigrate or not to emigrate, that is the question

Fiquei algo estupefacta com as declarações feitas a semana passada por membros da classe governativa portuguesa, exortando (ou assim pareceu) à imigração dos jovens, em particular aqueles que são qualificados.
A bem da verdade, a esta distância, enquanto imigrada e com qualificações que sou, o comentário chocou-me por me parecer o contrário do que se quererá para o país. Qualquer país o quer é captar a sua massa de gente qualificada, não que ela se vá embora para um dia, talvez, regressar. É certo, que o ministro em causa terá acrescentado que esta perspectiva de emigração deveria ser a médio curto prazo e perspectivando o regresso (?!?). Maior o meu espanto.

A decisão de emigrar - que não é fácil, diga-se de passagem - raras vezes é pensada por períodos curtos de tempo, sobretudo quando se emigra para longe e quando não se tem nenhum vínculo laboral à Pátria (o que será a maior parte dos casos dos qualificados mencionados). Emigrar implica estabelecer raízes noutro local, construir uma vida... e convenhamos, isso não se faz normalmente em curto/médio prazo. Tirando por pura necessidade ou vocação (classe diplomática), ninguem saltita de um lado de 2-3 anos de terra em terra.

Perspectivando o regresso? dado o estado da nação, como é que isso se perspectiva? se há algo que me tem entristecido nestes meses é precisamente o facto de não ver como perspectivar o regresso - e sim, eu era daquelas que a saída era por um curto/médio prazo, pese embora tudo o que há pouco escrevi. E concluo cada vez mais que não se emigra por curtos-médios prazos e que as perspectivas são parcas.

mas pode ser apenas o contágio de negativismo....

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Nunca quis ter nada a ver com Direito: jurista, advogada, juíza. O que fosse. Eram profissões que tresandavam a mofo, pouca criatividade e ceder ao que poderiam ser os nossos princípios. Não, definitivamente, todo aquele "cinzentismo" me aterrorizava.

No entanto, vibrava -ainda vibro, quando bem escritas - com séries de advogados (sublinho advogados/barristers) - pelo poder da palavra que sempre os caracterizava. A capacidade de dizer o que queriam, como queriam, com o resultado que queriam (bem, quando ganhavam os casos, mas nas séries de então, o advogado que ganhava era o que estava do lado justo - hoje, a ingenuidade já não é tanta da minha parte, nem as séries são escritas de uma forma tão simplista: ainad bem!).

A eloquência, a capacidade de fazer da palavra sua, sem a raptar inteiramente, deixando espaço ao ouvinte para a tornar também sua.

E o raciocínio que necessariamente estava inerente àquela mesma eloquência.... esse verdadeiramente apaixonante.

Aprendi, depois, que são raros os casos de verdadeira eloquência entre juristas, advogados e/ou juízes. São raros, mas existem. E ainda bem, porque é no raro momento em que me cruzo com alguém com essa capacidade de utilizar a palavra, que não é a mesma de um escritor ou de um político (essa(s) são igualmente fascinantes e deliciosas pelas suas próprias razões), que penso que vale a pena, afinal, achar graça a isto do Direito.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

das banalidades de circunstância I.... o clima

Como é típico na terra onde me encontro, o tempo mudou repentinamente.
O Verão deixou de o ser, para dar lugar a um (quase) inverno vestido a rigor, cinzento, frio e húmido.
E se uma parte de mim ansiava por um calor menos insuportável, esta diferença de mais de 10 graus centígrados mexe e remexe com o meu ser.

Portanto, o tema deste post é aquele interessantíssimo tema de conversa, aquele que permite fazer conversa de circunstância: o tempo.

A verdade é que de há uns anos para cá comecei a aperceber-me que, além de tema para conversa de croquete na mão e copo de uma qualquer bebida na outra, esta coisa do clima nos afecta mais do gostaríamos.

A minha complexa relação com o Sr. Clima começou quando vivi no norte da Europa. Lampeira que fui, considerando que isso de 4-5h de luz por dia não me afectaria nada e tão pouco faria mossa que 11 meses fossem passados com temperaturas reduzidas. Não! Isso não ia mesmo incomodar nada... excepto que, como todos os seres humanos (e plantas, já agora), comecei a murchar ao fim de dois meses, a jantar às 18h ( o que um amigo meu diria: decadente!), e a sair à rua a correr, sem parar por motivo algum, assim que via um raio de sol.

Foi também nesta altura que aprendi o verdadeiro prazer de uma tarde passada na relva (não havia praia nas redondezas, só canais....), de ter um espaço exterior na nossa própria casa e a importância que o sol tem no nosso quotidiano.

E deixei de lado a arrogância de achar que sou imune ao clima.

Não sou, nenhum de nós é.

Pelos vistos, contudo, sou atraída por terras onde o sol é escasso. Agora, não faz tanto frio. Pelo contrário, meses há em que o calor é insuportável. Mas sol? Nem vê-lo. Só esporadicamente.

Mas agora estou ensinada, sei o que fazer quando há uma abertura e tenho uma varanda preparada para qualquer visita inesperada.

Nada disto, contudo, sem o suspiro pelo maravilhoso sol que Lisboa costuma ter:-)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

É elementar Dr. Watson II

Meu caro Dr. Watson, é elementar que uma gripe diminui a capacidade de raciocínio. É elementar. O problema é, claro, que o Dr. Watson bem sabe, ao contrário do Sr. S. Holmes, que uma gripe pode significar muito mais do que uma capacidade de raciocínio mais limitada, mas antes reflectir a necessidade de parar e de recuperar o fôlego; esse que vamos perdendo pelo caminho, mesmo sem saber porquê.

Não me fixarei nas personagens do Watson e do Holmes, nem sequer são das minhas personagens de policiais favoritas... se alguém me retira o Sr. Poirot tem um caso sério de zanga comigo.
Mas sempre achei que o binómio em causa era curioso, pelo Watson ser muito mais do que Holmes queria que fosse e Holmes ser muito menos que pensava que era.
Sempre achei que reflectia muito do que é o nosso mundo, em tudo. Este mundo que quase sempre é um teatro de sombras.

E por isso, é elementar, sr. holmes, uma gripe raras vezes é mesmo só uma gripe.

é elementar meu caro Dr. Watson

Os sonhos podem ser mais ou menos concretizáveis. Podem ser simples ou complexos. São sonhos e são todos eles permitidos.

Mudei de blogue e de título, talvez porque sinta que estou nesta busca incessante pelos meus próprios sonhos, ando no seu encalço.

O blogue não pretende ser só sobre sonhos - céus! Não - mas antes sobre o caminho que vamos percorrendo no nosso quotidiano, quase sempre em busca de um sonho, mesmo que não tenhamos consciência disso.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

mudam-se os tempos...

Mudei de sítio na internet, mudei de bogue.

Na promessa de que este percurso seja menos perene