Sentaram-se
um em frente do outro, mas era como se de estranhos se tratassem.
Cumprimentaram-se, no respeito pelas regras sociais. E o silêncio instalou-se.
Ela
murmurou “como estás?”, sentindo as suas palavras saírem a custo perante aquele
que tinha sido o seu grande amor. Ele, educadamente, respondeu, “está tudo bem.
E contigo?”, “As crianças estão bem?”, continuou. “São duas, não são?”.
Ela
respondeu, “sim”, “são duas, o Eduardo e a Maria. Estão bem”. E naquele
momento, o seu amor por aquelas duas crianças, as suas crianças, preencheu todo
vazio com aquele encontro lhe tinha trazido de volta, apagou as horas não
dormidas, o casamento infeliz e desfeito em pouco tempo, as frustrações de uma
vida profissional que ficara interrompida.
Ele
sorriu educadamente. O tempo passara, eram agora estranhos, mas reconhecera,
por segundos, naquela resposta, a mulher que, não tendo verdadeiramente amado,
admirara como não admirara mais ninguém e uma vaga imensa de ternura
percorreu-o.