Há uns tempos,
uma amiga pediu-me para escrever sobre criatividade. Fi-lo com prazer e sem
pensar muito no assunto, não porque não considerasse o convite importante (bem
pelo contrário) ou porque a questão não exigisse reflexão (porque o
exige).
Passado uns dias,
dei-me conta disto mesmo: que não tinha pensado muito no assunto. As palavras
tinham fluído e tinha teclado alegremente sobre a questão. Como se o meu mundo
não fosse outro que não o criativo. A verdade é que não é bem assim, ou não é
totalmente assim.
Mas a naturalidade
com que pensei a questão fez-me perceber que uma parte de mim que julgava
adormecida, está acordada. E bem acordada.
A outra coisa –
na falta de melhor palavra, confesso - que retirei desta experiência diz
respeito à capacidade que as nossas amizades têm de puxar por nós. Neste caso,
confirmou-se algo em que sempre acreditei: que as pessoas que nos querem bem
conseguem ver sempre o que de melhor temos. E o quão gratos devemos estar por
isso!
Passo a explicar,
esta mesma amiga é, em grande parte, a responsável pelo o meu “reingresso” com
mais consistência no mundo dito dos “criativos”, através da fotografia. Não sou
fotógrafa, nem o serei. Gosto do que faço (na maior parte dos dias). Dito isto,
a fotografia tem-me permitido ver um
outro mundo que não julgo ser possível ver sem ser através de uma lente, tem-me possibilitado retirar de todas as experiências algo de interessante, mesmo quando
só há cinzento à volta.
Esta minha amiga
tem sido, ao lado do meu pai e de m outro amigo, o meu “grilo falante”. Sempre
que pego na máquina ou sempre que leio alguma coisa sobre fotografia, ou sempre
que vejo uma exposição ou penso que há algum aspecto que quero fotografar, ali
está a voz dela, a sussurrar palavras de coragem, e o esboço de um sorriso de apoio.
Não sei
exactamente porque escrevo agora sobre isto, sobre as amizades – de uma em particular
–, sobre o seu efeito nas nossas vidas. Mas acho que é porque tenho andando a
pensar na razão de ser das nossas decisões e de como elas surgem por vezes de
forma aparentemente inesperada, impulsionadas por coisas que (também apenas e
só aparentemente) são pequenas. Assim, entre outros, como um pedido de uma amiga para
escrever sobre criatividade.