quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Estranhos


Sentaram-se um em frente do outro, mas era como se de estranhos se tratassem. Cumprimentaram-se, no respeito pelas regras sociais. E o silêncio instalou-se.

Ela murmurou “como estás?”, sentindo as suas palavras saírem a custo perante aquele que tinha sido o seu grande amor. Ele, educadamente, respondeu, “está tudo bem. E contigo?”, “As crianças estão bem?”, continuou. “São duas, não são?”.

Ela respondeu, “sim”, “são duas, o Eduardo e a Maria. Estão bem”. E naquele momento, o seu amor por aquelas duas crianças, as suas crianças, preencheu todo vazio com aquele encontro lhe tinha trazido de volta, apagou as horas não dormidas, o casamento infeliz e desfeito em pouco tempo, as frustrações de uma vida profissional que ficara interrompida.

Ele sorriu educadamente. O tempo passara, eram agora estranhos, mas reconhecera, por segundos, naquela resposta, a mulher que, não tendo verdadeiramente amado, admirara como não admirara mais ninguém e uma vaga imensa de ternura percorreu-o.