quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Desejava ardentemente reter aquele sentimento de esperança. Não que fosse desconhecido; pelo contrário, sabia o quão efémero era, o quão rapidamente se iria desfazer no rodopio do quotidiano.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Diálogo

Sentou-se ao fim das escadas. Arfava. Já não era o jovem que tinha sido. Pesavam os anos, as noitadas, todas as violações das regras de bom senso para uma boa saúde (física e mental), as horas excessivas de trabalho.
Arfava e pensava: “Bolas! Nao tenho sequer 40 anos, parece que estou às portas dos 100”.
“Estúpido!” - continuava no seu diálogo interno -, “correste para nada, para bater com o nariz na porta”.
Maldita a hora que tinha decidido fazer aquela viagem, sem se lembrar que o seu passaporte poderia já não estar válido. Por melhores que fossem as razões, que certamente iria recordar no momento que entrasse no avião a caminho do seu destino, tudo lhe parecia inútil naquele momento. Perdera tempo, perdera compostura, perdera a paciência e, agora, sentado naquelas escadas, questionava todas as suas decisões - as grandes e as pequenas - que o tinham conduzido àquele momento.
E, voltava a dizer a si mesmo, em frente a porta do único serviço público que o poderia ajudar na saga do passaporte, “além de cansado, estou com uma crise existencial, também ela extemporânea aos seus 30 e poucos anos”. "Não preciso disto", e, com isto, levantou-se, resolvido a alterar tudo o que estava no seu alcance para alterar aquele estado de coisas.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Estranhos


Sentaram-se um em frente do outro, mas era como se de estranhos se tratassem. Cumprimentaram-se, no respeito pelas regras sociais. E o silêncio instalou-se.

Ela murmurou “como estás?”, sentindo as suas palavras saírem a custo perante aquele que tinha sido o seu grande amor. Ele, educadamente, respondeu, “está tudo bem. E contigo?”, “As crianças estão bem?”, continuou. “São duas, não são?”.

Ela respondeu, “sim”, “são duas, o Eduardo e a Maria. Estão bem”. E naquele momento, o seu amor por aquelas duas crianças, as suas crianças, preencheu todo vazio com aquele encontro lhe tinha trazido de volta, apagou as horas não dormidas, o casamento infeliz e desfeito em pouco tempo, as frustrações de uma vida profissional que ficara interrompida.

Ele sorriu educadamente. O tempo passara, eram agora estranhos, mas reconhecera, por segundos, naquela resposta, a mulher que, não tendo verdadeiramente amado, admirara como não admirara mais ninguém e uma vaga imensa de ternura percorreu-o.


domingo, 27 de maio de 2012

Perde o ar novamente.
A água escorre-lhe pelo corpo, sem lhe dar o alívio que esperava. O fim do dia e da semana pesam-lhe sobre cada um dos seus músculos e sobre cada uma das suas articulações, os pensamentos vagueiam como se de fantasmas se tratassem. E como se de fantasmas se tratassem, atormentam-na, com a persistência que só os fantasmas podem ter, porque são imunes ao conceito de “tempo”.
 Volta a respirar fundo e, novamente, falta-lhe o ar. Sabe que sairá do banho e não se reconhecerá no espelho. Sabe que sentirá medo perante essa percepção: a de que está perante uma estranha que o não devia ser. A falta de ar radica nessa certeza, na certeza de que já não sabe quem é. E que a sua humanidade não regressou com a passagem da água pelo corpo, como em tempos era possível. Também isso mudou. A sua existência em modo automático passou a dominar e o ritual diário de, com a água, despir a máscara de autómata que vestira pela manhã para se proteger, deixou de surtir efeito.

domingo, 13 de maio de 2012

Desafio 2012

Uma amiga tem andado a desafiar-me para eu fazer um projecto com as fotografias que vou tirando nesta minha experiência asiática.... decidi aceitar o repto, com o senão de muitas fotografias não virem a ser colocadas online, já que foram tirdas ao acaso e não tenho a devida autorização para as tornar públicas no mundo virtual. Seja como for, aqui fica o link para o site e on vera!

http://pontosdevista.aminus3.com

sábado, 14 de abril de 2012

Sonhos

O título deste blog fala do sonho, melhor seria dito, dos sonhos. Daqueles que vamos tentando alcançar.
Nessa busca, nesse percurso, aprendemos que os sonhos mudam, que se adaptam e que, às vezes, não se realizam, nem se realizarão. Permanecerão sonhos.

Aprendemos a viver com essa mutação permanente e com a (relativa) tristeza que acompanha a consciência de que alguns sonhos não se realizarão. Muitos destes últimos arrumamos na gaveta das recordações, representam um período da nossa vida e, como tudo o resto, são colocados no seu devido sítio: na adolescência, na infância, no início da faculdade, no início da vida de trabalho, onde seja. Outros há, no entanto, que, mesmo sabendo que não se realizarão, se mantém connosco, como guia do que fazemos, porque apesar de não serem  alcançáveis, são uma espécie de luz no nosso caminho, no nosso percurso, são o que nos fazem procurar o melhor em cada dia que vivemos, em cada experiência que vivemos, em cada sítio que visitamos ou por onde passamos.

Nem sempre é fácil viver com essa "luz", às vezes irrita, outras frustra, outra simplesmente magoa; mas na maior parte das vezes, agradeço a sua existência, porque me lembra quem sou, no meu íntimo, no mais íntimo do meu ser. E a consciência de quem somos é fundamental para manter a sanidade mental, mas, sobretudo, para que possamos ter um quotidiano honesto connosco e com os outros.

Bem haja, aos sonhos: os que são passíveis de realizarmos e aqueles que não. São todos cruciais.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sobre mudanças...

Começo a ficar perita em mudanças. Mudo de casa, mudo de trabalho, mudo de terra, e, passado algum tempo, viro o disco e repito o processo.
Desta feita, permaneço na mesma terra. Mas é mesmo só isso que não muda. Apesar de tudo, não é pouco o que permanece, mas é também muito o que muda.
Não consigo não pensar nesta coisa da mudança, altera-nos o ritmo interno e externo, determina fazermos limpeza de coisas que já nem nos lembrávamos pertencerem à nossa vida e, o melhor de tudo, traz-nos esperança.
Ontem, olhava para os vários sacos onde vou colocando os meus pertences e pensava que, pese embora o cansaço, estava animada, animada com esperança. E é tão bom sentir esperança. É um sentimento que preenche tanto e é tão positivo.

E só por isso, mudar é bom!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

há coisas que nos dizem que nunca se esquecem - correcção

Depois de alguém mais atento do que eu me ter chamado à atenção para algo que tinha escrito no post "há coisas que nos dizem que nunca se esquecem", aqui fica a correcção devida:

Fiquem as segundas, as primeiras tornem-se apenas as memórias de quem passa pela nossa vida e não deve ficar.

ps - sinal, portanto, que madrugada não é hora para escrever posts...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

No words. Only silence. The needed, the awaited and missed silence. And the calm that comes with it, firstly agreable, but them the storm arrives